Manuel Freire

Manuel Freire, Devolta, 1978.
Manuel Freire

Antes de Manuel Freire se dar a conhecer ao grande público actuando em duas edições do programa televisivo (de grande audiência) “Zip-Zip”, a segunda delas coincidindo com a última do próprio programa, a 29 de Dezembro de 1969, na qual apresentou a belíssima “Pedra Filosofal”, que não tardou a tornar-se o seu ‘cartão-de-visita’, já havia publicado, no ano anterior, dois discos em formato EP – “Manuel Freire canta Manuel Freire” e “Trovas Trovas Trovas” – ambos sob o selo Tagus, propriedade do maestro Jorge Costa Pinto.

A segunda daquelas edições seria apreendida pela PIDE por conter uma canção, “O Sangue Não Dá Flor”, que tinha (tem) uma mensagem explicitamente antimilitarista cujos destinatários eram, como facilmente se depreendia naquele contexto histórico, os soldados portugueses que nas matas africanas derramavam o seu sangue combatendo numa guerra sem sentido: «Poisa a espingarda, irmão/ que o sangue não dá flor!/ Para amanhã ser melhor/ não podemos perder amor.»

Sobre o primeiro EP não caiu o anátema da proibição, embora a canção “Livre” não fosse inócua para um regime que estava longe de prezar a liberdade e o pensamento sem peias.

O facto de os dois primeiros versos («Não há machado que corte/ a raiz ao pensamento») serem de origem popular talvez tenha demovido os censores de interditarem a canção. Certo, certo é que o mesmíssimo poema com música de Fernando Lopes-Graça, juntamente com as demais “Canções Heróicas”, teve sorte diferente: expressamente proibida a edição fonográfica, assim como a apresentação em espectáculos. Ora, e a menos que Manuel Freire tivesse ouvido a canção de Lopes-Graça em algum sarau privado – o que não aconteceu, conforme afirmou ao jornalista Nuno Pacheco, por ocasião do 50.º aniversário da publicação do seu disco de estreia («Atrevi-me a musicar um poema do Carlos de Oliveira já musicado pelo Fernando Lopes-Graça. Mas não sabia, se soubesse não me tinha atrevido. Foi a primeira oportunidade de gravar as minhas coisinhas.», in “Público”, 17.11.2018) – o conhecimento que tomou do texto só podia ser pela leitura, provavelmente da antologia “Poesias”, de Carlos de Oliveira, publicada pela Portugália Editora, em 1962, no âmbito da colecção “Poetas de Hoje” (a primeira aparição em volume dera-se em 1950, no livro “Terra de Harmonia”, com chancela da editora Centro Bibliográfico).

E ainda bem que Manuel Freire se atreveu a transpor o poema “Livre” para canção porque, além de dar uma pérola à Música Popular portuguesa, ela teve o bendito condão de tornar-se uma das mais emblemáticas do seu repertório, quiçá só superada pela famosíssima “Pedra Filosofal”. É provável que antes da Revolução dos Cravos a canção “Livre” não passasse na Emissora Nacional, ademais não se inserindo Manuel Freire nos dois géneros mais acarinhados pela rádio oficial do regime – nacional-cançonetismo e Fado –, mas estamos em crer que alguma divulgação teve nas rádios privadas.

No pós-25 de Abril de 1974, foi uma das canções mais radiodifundidas. No Dia da Liberdade de 2022, em que se celebra o 48.º aniversário da eclosão da Revolução dos Cravos, foi também – feliz coincidência! – o do 80.º aniversário do nascimento do notabilíssimo compositor e intérprete que, na esteira de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Luís Cília, desempenhou um significativo papel na resistência à ditadura, ajudando a desbravar o caminho que trouxe a Liberdade de regresso a Portugal.

Fonte: A Nossa Rádio

Discografia

Álbuns

Manuel Freire, Fernando Alvim, Pedro Caldeira Cabral – Dedicatória 3 versões Tecla 1972

Manuel Freire 2 versões Zip Zip, Zip Zip 1974

Devolta (LP, Álbum) Diapasão 1978

Pedra Filosofal 5 versões Strauss 1993

Manuel Freire Canta José Saramago – As Canções Possíveis 2 versões Editorial Caminho, SARL 1999

Manuel Freire, Vitorino, José Jorge Letria – Abril, Abrilzinho (CD, Album, Special Edition) Praça das Flores, Público 2006

Versos Diversos de Vitorino Nemésio (CD, ) Ovação 2014

Singles & EPs

Trova / Lutaremos Meu Amor (7″) Tecla 1968

Canta Manuel Freire 2 versões Tagus 1968

Trovas Trovas Trovas 2 versões Tagus 1968

Pedra Filosofal 2 versões Zip Zip, Zip Zip 1970

Trova do Emigrante (7″, Single) Tecla 1970

Dulcineia 2 versões Zip Zip 1971

Pedro Só 2 versões Zip Zip 1972

Abaixo o D. Quixote (7″, 45 RPM, EP, Stereo) Guilda da Música 1973

Os Emigrantes (7″, 45 RPM, Single) Diapasão 1979

Compilações

Canto & Autores 09 (CD, Compilação) Levoir, Público 2014

Manuel Freire, Devolta, 1978.

Manuel Freire

Manuel Freire, Pedro Só

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