José Afonso
José Afonso, nome pelo qual é conhecido José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro, filho de José Nepomuceno Afonso dos Santos, magistrado, e de Maria das Dores Dantas Cerqueira, professora primária.
A 4 de Dezembro de 1957, José Afonso actuou em Paris, no Teatro “Champs Elysées” ao lado de Fernando Rolim, voz, António Portugal e David Leandro nas guitarras de Coimbra e Sousa Rafael e Levy Baptista nas violas.
Em 1959 começou a frequentar colectividades e a cantar regularmente em meios populares.
Nos inícios do ano lectivo de 1959/60 foi colocado por 10 dias num colégio em Aljustrel, transitando depois para a Escola Técnica de Alcobaça onde foi professor provisório entre 3 de Outubro de 1959 e 30 de Julho de 1960.
Em 1960 foi editado o quarto disco de José Afonso. Trata-se de um EP para a rapsódia, intitulado Balada do Outono. Em Agosto fez nova digressão com o Orfeão Académico de Coimbra a Angola. Deslocou-se a Paris e Genebra com Fernando Rolim, voz, António Portugal e David Leandro nas guitarras de Coimbra e Sousa Rafael e Levy Baptista nas violas. Na cidade helvética gravou uma serenata para a Eurovisão.
De 1961 a 1962 seguiu atentamente a crise estudantil deste último ano. Conviveu em Faro com Luiza Neto Jorge, António Barahona, António Ramos Rosa e Pité e namorou com Zélia, natural da Fuzeta, que seria a sua segunda mulher.
Em 1962 foi editado o álbum Coimbra Orfeon of Portugal, pela Monitor, dos Estados Unidos, com «Minha Mãe» e «Balada Aleixo», onde José Afonso rompeu definitivamente com o acompanhamento das guitarras. Nestas duas baladas foi acompanhado exclusivamente à Viola por José Niza e Durval Moreirinhas.
Em 1963 foi editado outro EP de «Baladas de Coimbra». Voltou a ser professor provisório na mesma escola em Faro, de 19 de Outubro de 1962 a 31 de Julho de 1963.
Em Maio de 1964, José Afonso actuou na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, onde se inspirou para fazer a canção «Grândola, Vila Morena», que viria a ser, no dia 25 de Abril de 1974, a senha do Movimento das Forças Armadas (MFA) para o derrube do regime ditatorial.
Nesse mesmo ano foi editado o EP «Cantares de José Afonso», o único para a Valentim de Carvalho. Também em 1964 foi editado, pela Ofir, o álbum «Baladas e Canções», que viria a ser reeditado em CD pela EMI em 1996.
De 1964 a 1967, José Afonso esteve em Lourenço Marques com Zélia, onde reencontra os seus dois filhos. Nos últimos dois anos, deu aulas na Beira. Aqui musicou Brecht na peça «A Excepção e a Regra». Em Moçambique nasceu a sua filha Joana (1965).
Em 1967 regressou a Lisboa esgotado pelo sistema colonial. Deixou o filho mais velho, José Manuel, confiado aos avós em Moçambique. Colocado como professor em Setúbal, sofreu uma grave crise de saúde que o levou a ser internado durante 20 dias na Casa de Saúde de Belas. Quando saiu da clínica, tinha sido expulso do ensino oficial. Foi publicado o livro «Cantares de José Afonso», pela Nova Realidade. O PCP convidou-o a aderir ao partido, mas José Afonso recusa invocando a sua condição de classe. Assinou contrato discográfico com a Orfeu, para quem gravou mais de 70 por cento da sua obra.
Expulso do ensino, em 1968 dedicou-se a dar explicações e a cantar com mais assiduidade nas colectividades da Margem Sul, onde era nítida a influência do PCP. Pelo Natal, editou o álbum «Cantares do Andarilho», com Rui Pato, primeiro disco para a Orfeu. O contrato é sui generis: contra o pagamento de uma mensalidade (15 contos), José Afonso é obrigado a gravar um álbum por ano.
José Afonso, cantautor de intervenção
Em 1969 a Primavera marcelista abriu perspectivas de organização ao movimento sindical. José Afonso participou activamente neste movimento, assim como nas acções dos estudantes em Coimbra. Editou o álbum «Contos Velhos Rumos Novos» e o single «Menina, dos Olhos Tristes» que contém a canção popular «Canta Camarada». Recebeu o prémio da Casa da Imprensa para o melhor disco, distinção que se repetiu em 1970 e 1971. Pela primeira vez num disco de José Afonso, aparecem outros instrumentos que não a Viola ou a guitarra. Trata-se do último álbum com Rui Pato. Nasceu o último filho, o quarto, Pedro.
Em 1970 foi editado o álbum «Traz Outro Amigo Também», gravado em Londres, nos estúdios da Pye, o primeiro sem Rui Pato, impedido pela PIDE de viajar. Carlos Correia (Bóris), antigo músico de rock, dos Álamos e do Conjunto Universitário Hi-Fi, substituiu Pato. A 21 de Março, por unanimidade, a Casa da Imprensa atribuiu a José Afonso o Prémio de Honra pela «alta qualidade da sua obra artística como autor e intérprete e pela decisiva influência que exerce em todo o movimento de renovação da Música Ligeira portuguesa». Participou em Cuba num Festival Internacional de Música Popular.
Pelo Natal de 1971, foi lançado o álbum «Cantigas do Maio», gravado perto de Paris, nos estúdios de Herouville, um dos mais caros e afamados da Europa. O álbum é geralmente considerado o melhor disco de José Afonso. A editora Nova Realidade publicou o livro «Cantar de Novo».
No ano de 1972 o álbum chama-se «Eu Vou Ser Como a Toupeira», gravado em Madrid, nos Estúdios Cellada, com a participação de Benedicto, um cantor galego amigo de Zeca, e com o apoio dos Aguaviva, de Manolo Diaz. O livro, editado pela Paisagem, tem apenas o título de «José Afonso».
Em 1973 José Afonso continuou a sua «peregrinação», cantando um pouco em todo o lado. Muitas sessões foram proibidas pela PIDE/DGS. Em Abril foi preso e fica 20 dias em Caxias até finais de Maio. Na prisão política, escreveu o poema «Era Um Redondo Vocábulo». Pelo Natal, publicou o álbum «Venham Mais Cinco», gravado em Paris, em que José Mário Branco voltou a colaborar musicalmente. No tema-título, participou Janine de Waleyne, solista dos Swingle Singers, o melhor grupo vocal de jazz cantado da altura, na opinião de José Niza.
De 1974 a 1975 envolveu-se directamente nos movimentos populares. O PREC (Processo Revolucionário Em Curso) foi a sua paixão. Cantou no dia 11 de Março de 1975 no RALIS para os soldados. Estabeleceu uma colaboração estreita com o movimento revolucionário LUAR, através do seu amigo Camilo Mortágua, dirigente da organização. A LUAR editou o single «Viva o Poder Popular» com «Foi na Cidade do Sado» no lado B. Em Itália, as organizações revolucionárias Lotta Continua, Il Manifesto e Vanguardia Operaria editaram o álbum «República», gravado em Roma a 30 de Setembro e 1 de Outubro, nos estúdios das Santini Edizioni. As receitas do disco destinavam-se a apoiar a Comissão de Trabalhadores do jornal República ou, caso o jornal fosse extinto, como foi, o Secretariado Provisório das Cooperativas Agrícolas de Alcoentre. O álbum inclui «Para Não Dizer Que Não Falei de Flores» (Geraldo Vandré), «Se os Teus Olhos se Vendessem», «Foi no Sábado Passado», «Canta Camarada», «Eu Hei-de Ir Colher Marcela», «O Pão Que Sobra à Riqueza», «Os Vampiros», «Senhora do Almortão», «Letra para Um Hino» e «Ladainha do Arcebispo». Francisco Fanhais colaborou na gravação do disco, juntamente com músicos italianos.
Em 1976 apoiou a candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho, cérebro do 25 de Abril e ex-comandante do COPCON (Comando Operacional do Continente), apoio que reeditou em 1980. Fase cronista de José Afonso que publica o álbum «Com as Minhas Tamanquinhas». O disco tem a surpreendente participação de Quim Barreiros. É, na opinião de José Niza, «um disco de combate e de denúncia, um grito de alma, um murro na mesa, sincero e exaltado, talvez exagerado se ouvido e lido ao fim de 20 anos, isto é, hoje». É a «ressaca» do PREC.
O álbum «Enquanto Há Força», editado em 1978, de novo com Fausto, representa mais um exemplo da fase cronista do cantor, ligada às suas preocupações anti-colonistas e anti-imperialistas e à sua crítica mordaz à Igreja. Inclui as participações, entre outras, de Guilherme Inês, Carlos Zíngaro, Pedro Caldeira Cabral, Rão Kyao, Luís Duarte, Adriano Correia de Oliveira e Sérgio Godinho.
Em 1979 foi editado o álbum «Fura Fura», com a colaboração musical de Júlio Pereira e dos Trovante. O disco inclui oito temas de música para teatro, compostos para as peças «Zé do Telhado», de A Barraca, e «Guerra do Alecrim e Manjerona», da Comuna. Actua em Bruxelas no Festival da Contra-Eurovisão.
Em 1981, após dois anos de silêncio, regressou a Coimbra com o seu álbum «Fados de Coimbra e Outras Canções». Trata-se da mais bela versão do Fado de Coimbra, interpretada por Zeca Afonso em homenagem a seu pai e a Edmundo Bettencourt, a quem o disco é dedicado. Actuou em Paris, no Théatre de la Ville.
Em 1982 começam a conhecer-se os primeiros sintomas da doença do cantor, uma esclerose lateral amiotrófica. Actuou em Bourges no Festival de Printemps.
Em 29 de Janeiro de 1983 realizou-se o espectáculo no Coliseu com José Afonso já em dificuldades. Participaram Octávio Sérgio, António Sérgio, Lopes de Almeida, Durval Moreirinhas, Rui Pato, Fausto, Júlio Pereira, Guilherme Inês, Rui Castro, Rui Júnior, Sérgio Mestre e Janita Salomé. Foi publicado o duplo álbum «Ao Vivo no Coliseu».
No Natal desse ano, saiu «Como Se Fora Seu Filho», um testamento político. Colaboração de Júlio Pereira, Janita Salomé, Fausto e José Mário Branco. Alinhamento: «Papuça», «Utopia», «A Nau de António Faria», «Canção da Paciência», «O País Vai de Carrinho», «Canarinho», «Eu Dizia», «Canção do Medo», «Verdade e Mentira» e «Altos Altentes». Algumas das canções foram escritas para a peça «Fernão Mentes?» do grupo de teatro A Barraca. Foi também publicado o livro «Textos e Canções», com a chancela da Assírio e Alvim. Contra a sua vontade, foi publicado pelo Foto Sonoro um maxi-single, «Zeca em Coimbra», com um espectáculo dado por Zeca no Jardim da Sereia, na Lusa Atenas, a 27 de Maio.
Em 1985 foi editado o último álbum, «Galinhas do Mato». José Afonso já não consegue cantar todos os temas, sendo substituído por Luís Represas («Agora»), Helena Vieira («Tu Gitana»), Janita Salomé («Moda do Entrudo», «Tarkovsky» e «Alegria da Criação»), José Mário Branco («Década de Salomé», em dueto com Zeca), Né Ladeiras («Benditos») e Catarina e Marta Salomé («Galinhas do Mato»). Arranjos musicais de Júlio Pereira e Fausto. Outras canções do álbum: «Escandinávia Bar-Fuzeta» e «À Proa».
José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada em 1982.
A Transmédia editou o triplo álbum, o primeiro da história discográfica portuguesa, «Agora e Sempre», duas semanas depois da morte do cantor. O triplo disco é constituído pelos álbuns «Como Se Fora Seu Filho» (1983) e «Galinhas do Mato» (1985) e por um alinhamento diferente de «Ao Vivo no Coliseu» (1983).
Cf. AJA, acesso a 07 de novembro de 2018
Discografia
Álbuns
baladas E Canções Ofir 1964
Cantares Do Andarilho Orfeu 1968
Contos Velhos Rumos Novos Orfeu 1969
Traz Outro Amigo Também Orfeu 1970
cantigas Do Maio Orfeu 1971
Eu Vou Ser Como A Toupeira Orfeu 1972
Venham Mais Cinco Orfeu 1973
Coro Dos Tribunais Orfeu 1974
República 1975
A Luta Continua (Solidarität Mit Den Kooperativen Der Landarbeiter In Portugal) Verlag Arbeiterkampf 1976
Com As Minhas Tamanquinhas Orfeu 1976
Enquanto Há Força Orfeu 1978
Fura Fura Orfeu, Orfeu 1979
Fados De Coimbra E Outras Canções Orfeu 1981
Ao Vivo No Coliseu Diapasão 1983
Como Se Fora Seu Filho Triângulo, Triângulo 1983
Galinhas Do Mato Schiu! 1985
Ao Vivo Tradisom, Tradisom, Tradisom 2019
Singles & EPs
Contos Velhinhos / Incerteza (10″) Melodia (4) 15.090 1953
Fado Das Águias (10″) Melodia (4) 15.097 1953
José Afonso / Luís Góis – Fados de Coimbra Alvorada 1957
Balada Do Outono rapsódia 1960
Coimbra Alvorada 1960
baladas De Coimbra (7″, EP) rapsódia EPF 5.182 1962
Em baladas De Coimbra rapsódia 1963
Cantares De José Afonso Columbia 1964
baladas (7″, EP) Ofir AM 4.043 1964
baladas e Canções (7″, EP) Ofir AMS 4.016 1964
baladas E Canções (7″, EP) Ofir AM 4.017 1964
baladas (7″, EP) Ofir AM 4.183 1969
Dr. José Afonso E Rui Pato – baladas De Coimbra (7″, EP) rapsódia EPF 5.437 1969
Menina Dos Olhos Tristes (7″, Single) Orfeu SAT 803 1969
Natal Dos Simples (7″, EP) Orfeu ATEP 6356 1970
Resineiro Engraçado (7″, EP) Orfeu ATEP 6357 1970
Chamaram-me Cigano (7″, EP) Orfeu ATEP 6358 1970
No Vale De Fuenteovejuna Orfeu 1971
Canto Moço Orfeu 1971
Menina Dos Olhos Tristes (7″, EP) Orfeu ATEP 6387 1971
S. Macaio (7″, EP) Orfeu ATEP 6388 1971
Os Eunucos (7″, EP) Orfeu ATEP 6433 1972
Coimbra (7″, EP) Melodia (4) EP-85-5 1972
Grândola, Vila Morena Orfeu 1973
Maio Maduro Maio (7″, EP) Orfeu ATEP 6487 1973
cantigas Do Maio (7″, EP) Orfeu ATEP 6486 1973
Coro Dos Caídos EMI 1974
Ó Vila De Olhão EMI 1974
A Morte Saiu À Rua (7″, EP) Orfeu ATEP 6587 1974
Venham Mais Cinco = ¡Choca Esos Cinco! (7″, Single, Promo) Poplandia, CFE P-30584 1974
O Que Faz Falta (7″, Single) Orfeu KSAT 526 1974
Coro Da Primavera (7″, EP) Orfeu ATEP 6571 1974
Viva O Poder Popular LUAR 1975
Avante Camaradas Disco Serenata 1975
Grândola, Vila Morena / Cantar Alentejano (7″, Single) Hispavox 45-1155 1975
Grândola, Vila Morena / Natal Dos Mendigos (7″, Single) AMIGA 4 56 103 1975
Os Índios Da Meia-Praia (7″, Single) Orfeu KSAT 586 1976
Grândola, Vila Morena (7″, Single) Orfeu KSAT 680 1979
Zeca Em Coimbra Maio 83 (12″, EP) Fotossonoro SPA-83 1983
Década de Salomé / Agora (7″, Promo, TP) Transmedia none 1985
Luís Góis / José Afonso – Fados De Coimbra Alvorada
O Povo (2) / José Afonso – Internacional / Avante Camarada / Canta Camarada / Os Eunucos (7″, EP) Orfeu 6601
Compilações
José Afonso / Luis Gois – Coimbra, Alvorada 1968
Carlos Paredes / José Afonso / Luiz Goes – Carlos Paredes, Jose Afonso, Luiz Goes Columbia 1973
José Afonso / Adriano Correia De Oliveira / Padre Fanhais – José Afonso / Adriano Correia De Oliveira / Padre Fanhais Orfeu 1973
José Afonso, Barros Madeira, Jorge tuna, Jorge Godinho, Durval Moreirinhas, Casimiro Ferreira – Coimbra Serenade rapsódia 1976
Grândola Lieder Aus Portugal (LP, Comp) AMIGA 8 55 507 1976
baladas E Fados De Coimbra Edisco 1981
José Afonso Orfeu, RT 1983
Agora E Sempre Schiu!, Transmedia 1987
Grândola, Vila Morena & Com As Minhas Tamanquinhas Westpark Music 1993
De Capa E Batina Movieplay 1996
José Afonso / António Bernardino / Luís Marinho / António Brojo – Fado de Coimbra EMI 1999
Edmundo De Bettencourt / Artur Paredes / José Afonso / João Bagão – Fado de Coimbra (CD, Comp) EMI 724352064021 1999
As Últimas Gravações 1983-85 (4xCD, Comp, Ltd, Boo) CNM CNM 176 CD 2007
José Afonso, José Mário Branco, Amélia Muge, João Afonso – Canto & Autores 8 – Homenagem a Zeca Afonso (CD, Comp, RE, RM) Levoir canto & autores 08 2014
Vídeos
Maior Que O Pensamento – Uma História De Resistência (DVD) Levoir, Vídeos RTP 768/2015 2015
Fonte: Discogs
José Afonso