Pedro Caldeira Cabral
Pedro Caldeira Cabral, de seu nome completo “Pedro da Fonseca Caldeira Cabral, nasceu em Lisboa, no dia 4 de Dezembro de 1950, no seio de uma família numerosa (9 irmãos) que tinha uma tradição de prática musical amadora exclusivamente no âmbito da Música Erudita.
Teve deste modo no ambiente familiar o primeiro contacto com a música de autores como Purcell, Bach, Mozart, Chopin, Schubert e Schumann em interpretações cantadas pelo pai e acompanhadas ao piano pela mãe, iniciando a aprendizagem da Viola e da flauta de bisel com as irmãs.
Ainda na infância (1958) recebeu as primeiras lições de Guitarra de seu primo José Ferreira da Fonseca, e logo se apaixonou pelo instrumento, tendo nos anos seguintes recebido lições do Dr. César Augusto Bordallo, médico e guitarrista da escola de Coimbra (no estilo de Artur Paredes, cujo reportório interpretava).
Aos 10 anos recebeu como presente uma guitarra antiga, fabricada em 1905 por António Duarte, do Porto, a qual tinha sido oferecida ao avô paterno pela célebre actriz e cantora de Fado, Adelina Fernandes. Com esse instrumento praticou intensamente até aos 16 anos, altura em que comprou a sua primeira guitarra de modelo profissional de João Pedro Grácio Júnior.
Apresentou-se em público em festas de amadores desde os 14 anos, acompanhando vozes como António Mello Corrêa, José Pracana, “Chico” Stofell, Francisco Pessoa, Mercês Cunha Rego, Mercês Cardoso Pinto, Bela Buéri, Maria da Nazaré Martins, Vicente da Câmara, Teresa Tarouca e Maria Teresa de Noronha, entre muitos outros.
Frequentou igualmente aos fins-de-semana as casas de Fado amador da linha de Cascais, como “O Cartola”, “O Estribo”, o “vira Milho” e o “Galito”, durante a segunda metade da década de 1960.
Aos 16 anos (1967) foi convidado por Vicente da Câmara para actuar em directo nos programas de Fado que este artista mantinha no Rádio Clube Português, em substituição de Raul Nery, tendo tocado como solista em público pela primeira vez, sendo acompanhado nessas funções por Fernando Alvim, na Viola. Nesse ano, iniciou a actividade profissional no Mercado de Abril (mais tarde Mercado da Primavera) acompanhando os fadistas João Braga e Vicente da Câmara, acompanhado pelos violistas Júlio Gomes e Joel Pina.
Mais tarde, ainda no ano de 1967, é convidado a tocar no restaurante típico “Abril em Portugal (Rua das Taipas), ao lado de António Luis Gomes (Guitarra), Fernando Alvim (Viola) e Helder Nery (Viola), formando nesse ano um Conjunto liderado por Luís Gomes.”
“Em 1968 grava o seu primeiro disco de guitarradas integrado no Conjunto de Guitarras de António Luis Gomes, com o qual realiza programas de rádio e televisão.”
“Em 1969 é convidado a integrar o elenco do novo Restaurante Típico “O Luso”, na Travessa da Queimada (antigo “Café Luso”), local de grandes tradições que reabriu com um novo conceito de espectáculo de Fado e folclore, baseado em experiência anterior do restaurante “Folclore”.
Com Fernando Alvim, faz a selecção e arranjo das canções dos candidatos a apresentar “baladas” no célebre programa Zip-Zip, da RTP.
Grava inúmeros discos de baladas e fados, destacando-se os de José Labaredas, Lídia Rita, António Macedo, Rui Gomes e padre Fanhais, nos quais introduz também a guitarra portuguesa (instrumento com conotações tradicionalistas e, por isso, marginalizado do “som” deste género de música).
No mesmo ano, gravou o primeiro LP com o Conjunto de Guitarras de Fernando Alvim, deslocando-se ao Festival Internacional Singing Europe, na Holanda, para acompanhar João Ferreira-Rosa, ao lado de Carlos Gonçalves (guitarra), Pedro Leal (Viola) e Joel Pina (Viola baixo).
No ano seguinte continua a sua actividade guitarrística no Restaurante Típico “O Timpanas”, realizando também nesse ano uma digressão em várias cidades da Alemanha (na qual se apresentava em solo absoluto, interpretando peças suas e de Carlos Paredes), e em espectáculos com o Trio Odemira, a fadista Emília Reis e o cançonetista Luís Fernando.” (cf. Pedro Caldeira Cabral, “A Guitarra Portuguesa”, Lisboa, Ediclube, 1999, pp. 271-279)
Nas seguintes décadas Pedro Caldeira Cabral desenvolveu uma notável prestação musical, quer a nível individual como em colectivo. Alargou o seu repertório interpretativo, regressa aos estudos, na Universidade Nova de Lisboa, sucedem-se os concertos, em palcos nacionais e internacionais, sendo acompanhado por diversos instrumentos tais como violino e trompas. Exemplo da sua versatilidade é a fundação do grupo “La Batalla”, especializado na Música Medieval em instrumentos históricos e com o qual edita o “Cantigas D’Amigo” (1984) vencedor do Prémio da Crítica para melhor disco do ano de música clássica.
Também o “Grupo Musica Ficta” é fundado e dirigido por Pedro Caldeira Cabral que em paralelo mantém o acompanhamento de fadistas como Teresa Silva Carvalho, Ada de Castro, entre outros.
Em 1985 foi editado um LP com música original de Guitarra, intitulado “Pedro Caldeira Cabral”. “Nesse disco, a Guitarra Portuguesa é apresentada em contextos instrumentais variados, reflectindo várias opções estéticas, do Jazz à “Música Erudita”, da World Music às novas linguagens a solo.”.
Outras edições se registam, nomeadamente internacionais com destaque para um CD para a etiqueta belga GHA, “Guitarra Portuguesa” (1990), com peças novas a solo e outras de autores tradicionais como Armandino e José Nunes, acompanhado por Francisco Perez. Na Alemanha sai o CD intitulado “Momentos da Guitarra Portuguesa” (1991), tendo sido gravado num concerto realizado ao vivo e ao ar livre em Hamburgo, no âmbito do Festival Weltbeat.
Atingido o prestígio internacional Pedro Caldeira Cabral recebeu em 1993 o “Internationaler Schallplatenpreis” ao seu CD “Variações”.
Participou em 1996, como solista em Guitarra Portuguesa, na gravação do CD com o hino oficial da Expo’98, “Pangea” da autoria de Nuno Rebelo, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, sob a direcção de Miguel Graça Moura.
Em 1998 fez a direcção artística do Festival de Guitarra Portuguesa da Expo’98.
Pedro Caldeira Cabral é autor de um grande número de peças para Guitarra Portuguesa, destaque para:
“Baile das Meninas”, “Baile dos Carêtos”, “Balada do Castanheiro”, “Balada da Oliveira”, “Canção”, “Canto da Mulher de Pedra”, “Cantos da Lua”, “Contraponto I”, “Dança das Sombras”, “Diálogo Crioulo”, “Encontros”, “Estudo em Acordes”, “Estudo de Dedilho”, “Gestos”, “(In) Diferença”, “Improviso à Partida”, “Jogo de Sons”, “Labirinto I”, “Miscelânea”, “Momentos/Fragmentos, “Novo fandango”, “O Som Dúvida Azul?”, “Pêndulo”, “Por Música Nos Entendemos…”, “Prelúdio”, “Retorno”, “Sons de Andaluzia”, “Sons de Belmonte”, “Toada de Lisboa”, “Valsa em Mi Menor”, “Variações em Dó Menor”, “Variações sobre o Fado Alberto”, “Variações sobre o Fado Varella”, “Variações sobre um Romance (D Mariana)”; “Versos a um Sorriso Mágico”.
Excerto biográfico retirado de Pedro Caldeira Cabral (1999) “A Guitarra Portuguesa”, col. “Um Século de Fado”, Lisboa, Ediclube, pp 271-279.
Fonte: Museu do Fado
Pedro Caldeira Cabral, Encontros
Pedro Caldeira Cabral, A guitarra portuguesa
Pedro Caldeira Cabral, cantigas d’Amigo